News - Guerreiros pretendem retornar às atividades abertas ao público ainda este ano/ Este site vai entrar em manutenção.

11 ANOS DE NASCIMENTO

Foi em 1º de setembro de 2005, a data que marcou simbolicamente o primeiro registro do nome Guerreiros do Passo, documentado num livro de assinaturas quando os fundadores do grupo frequentavam a saudosa Escola Municipal de Frevo do Recife. Saudosa eu digo, porque o referido espaço cultural não é mais chamado assim, e nem vislumbramos lá atualmente, indícios dos tempos áureos da atuação do famoso Mestre Nascimento do Passo.
Éramos alguns poucos abnegados naquela época, hoje, somos uma parcela considerável de muitos outros Guerreiros. Um número infindável de apaixonados e seguidores que representam nosso nome até fora do país. Como disse, foi na mencionada escola onde começamos a utilizar a designação do grupo, e já nesse período, tínhamos iniciado a trajetória pela aventura deliciosa e não menos sofrida em direção ao processo de divulgação e valorização da história do Mestre Nascimento e de seu legado artístico. Nossa missão!

Nesses onze anos completados, auferimos as marcas indeléveis da persistência e dos diversos momentos vividos na ação cotidiana do fazer cultural. Somos marcados, sobretudo, pela profunda obstinação em manter um projeto de ensino que vem chamando a atenção pela expressiva participação popular, e ainda, pela postura crítica dos seus organizadores com relação às políticas públicas para o frevo.
Diante disso, e entre outras coisas, desde o ano de 2010, decidimos não mais participar dos Polos do carnaval da Prefeitura do Recife. E a maneira forte e destemida de como defendemos nossa dança, foi determinante num ambiente que está mais acostumado com os sorrisinhos falsos e as influências de quem se habituou a produzir arte por vaidade e por interesses pessoais. Um mundo de empáfias, que muitas vezes não gosta de ser contestado por quem ousa contrapor suas ideias.

Ainda sobre as dificuldades enfrentadas, muitas delas se deram no mundo virtual, e até de forma oculta, com comentários desprezíveis, buscando com isso, enfraquecer nossa coragem e nossa conduta. Chamaram-nos maldosamente de "puristas", "dos donos do frevo", e que queríamos ser os "senhores da razão". Para eles que não sabem, estávamos apenas defendendo uma bandeira como tantos outros artistas fazem. E aqui nunca houve espaço para exibicionismo barato, como se vê muito por ai. Na verdade, eles não suportavam sequer assistir a hegemonia de um simples grupo popular que estava momentaneamente aparecendo mais do que eles. E se algum dançarino ou instituição merecessem os seus aplausos, os teria se estivessem abaixo do seu visível estado de desespero e de mediocridade.
Fomos surpreendidos ainda, pela falta de ética de certos indivíduos invejosos, disfarçadamente camuflados de amigos, que tentaram usurpar e apoderar-se daquilo que eles jamais terão: o talento e a obstinação para enfrentar os desafios do trabalho cultural.

Em meio a tantos embates desestimuladores, jamais desistimos da luta. Da mesma forma, alguns outros não conseguiram igualmente seguir conosco. Talvez por não suportarem carregar por muito tempo os valores que constituem a lealdade e as virtudes que caracterizam o trabalho em grupo. E se um dia chegaram a acreditar numa vocação para exercer qualquer função relevante dentro do frevo, ficou claro agora que não são nem de longe um fragmento daquilo que um dia tentaram transparecer que eram.

É evidente que os Guerreiros do Passo não se resumem a uma ou duas pessoas, aliás, ninguém faz nada sozinho, e se construímos algo importante no universo do frevo, foi devido ao comprometimento dos nossos professores e companheiros que resistiram conosco nesses poucos anos de existência. Com eles, tentamos mudar alguns paradigmas da dança local: a moda do figurino colorido, por exemplo, foi um deles. Hoje, guarda-chuvas, chapéus e paletós se incorporaram às vestimentas de muitos dançarinos que antes mencionavam essas peças do vestuário do grupo, como: ultrapassado e coisa de gente velha e saudosista.

Tentamos ir também de encontro ao pensamento da padronização do passo. Julgamos que o ideal poderia ser a busca pela singularidade. Insistimos que o frevo necessitava salvaguardar um elemento técnico valioso e de beleza extraordinária.
Um dos resultados desse pensamento, foi o surgimento de um artigo de minha autoria que abria espaço para diferentes reflexões sobre o tema do improviso. 
Depois de muitas discussões e debates informais, observamos um fenômeno curioso: alguns “instrutores” começaram a prometer aos seus alunos, a utilização de técnicas e linguagens de improvisação no ensino do frevo, afirmando produzir dançarinos diferenciados e com atuação singularizada. No entanto, é fácil constatar que tais professores são mais conhecidos como profissionais que tradicionalmente enfatizaram na sua trajetória uma maneira de ensinar intensamente coreografada e especialmente robotizada. Será isso a aceitação inevitável daquilo que sempre propagamos - e que eles sempre negaram -, ou, consiste em mero oportunismo? Pois bem, talvez eles nunca admitam isso, mas cabia aqui fazer o registro.

Quando começarem a ler este texto, talvez possam dizer que o tom deveria ser ameno, principalmente num momento de comemoração. Porém, a história de uma instituição cultural não se faz apenas com acontecimentos afáveis. Quem dera que fosse assim... Aniversário também é a ocasião para fazer o balanço do trajeto percorrido até aqui, e se possível, tentar aperfeiçoar a atuação e corrigir desvios e falhas. Seria quase impossível que tenhamos sobrevivido no frevo por mais de dez anos sem experimentar o imponderável. Contudo, nossa existência foi significativa, especialmente pelas ações positivas e pela consagração de um belo trabalho que já está registrado na história da dança de Pernambuco. As incursões e pesquisas do Laboratório do Passo foram uma delas; o grupo de apresentações do espetáculo O Frevo é um fenômeno de aclamação, e incluo o já citado Projeto de aulas na Praça do Hipódromo, espaço impulsionador das nossas atividades. E reparem que não somos ligados a nenhum órgão público e nem temos as benesses dos apoios financeiros e nem as salas e espaços disponibilizados por instituições congêneres. É preciso muita garra e empenho para seguir em frente.

Por outro lado, é inegável o sentimento de alegria de poder chegar a este estágio e perceber as muitas críticas e observações importantes oriundas da opinião pública. Fato que vem chamando a atenção da imprensa local e nacional. Praticamente todas as emissoras de televisão do estado já produziram suas matérias e reportagens sobre os Guerreiros do Passo. Do mesmo modo, jornais impressos, revistas, sites e rádios também o fizeram. Trabalhos acadêmicos do Brasil e do exterior submeteram seus textos alusivos à instituição. Livros, monografias e artigos de estudiosos diversos mencionaram igualmente nas suas respectivas obras a atuação do grupo. Artistas e compositores também chegaram a expor em versos e partituras o apreço pela turma de Guerreiros. Faço referência ainda, aos dois projetos que foram contemplados pelo Funcultura, e que se tornou um marco para todos nós.

Nada disso seria possível se não estivéssemos amparados pela consideração daqueles que são o motivo de todas as nossas atuações: OS NOSSOS ALUNOS. E são para eles todos os esforços e agradecimentos. A gratidão especial também, aos professores Valdemiro Neto, Ricardo Napoleão, Lucélia Albuquerque e Laércio Olímpio. Estendemos os agradecimentos aos talentosos integrantes do espetáculo do grupo, incluindo na lista os professores citados: Cabral, Voguee, Ricardo, Valdemiro, Laércio, Limão, Dancan, Lucas, Daniele, Fabrício, Jamerson, Cleones, e a minha querida Lucélia. Sem esquecer os amigos, parceiros e divulgadores, pessoas que em conjunto acreditam nas ações do grupo, e independentemente de pontos de vistas diferentes, estão juntas e unidas em prol de uma causa maior, o Frevo.
Evoé!!!

Eduardo Araújo
Radialista, fundador e coordenador dos Guerreiros do Passo

3 comentários:

  1. E hoje comemoramos 11 anos de Nascimento. 11 anos de guerra, de uma guerra saudável em nome do Frevo. Só temos a agradecer a todos os nossos alunos, admiradores, incentivadores e divulgadores do nosso trabalho, pois são eles a essência da nossa continuidade. Nossa missão está alicerçada no compromisso de transmitir para o máximo de pessoas possível a tecnologia cultural deixada pelo Mestre Nascimento do Passo. Nascemos para não deixar morrer seu legado, e continuamos juntos porque acreditamos que assim somos mais fortes, pois somamos nossos conhecimentos, conhecimentos esses adquiridos através da vivência de anos e não de oportunismos ou experiências ocas. Juntos aprimoramos nossas crenças e valores, fazendo frente ao descaso de uma política cultural que invisibiliza nosso ritmo, dificultando nossa ações. Juntos aprendemos e fortalecemos nossos conhecimentos, ao trocar experiências e ensinamentos, já que não somos, não pretendemos ser e temos a convicção de que ninguém hoje em nosso estado detém as qualificações necessárias para ser um "mestre", e a todos que se intitulam ou aceitam esse título, deveriam estar mais preocupados em fazer sua parte e trazer reflexões embasadas e verdadeiras sobre o Frevo, do que está atrás de títulos forjados em práticas duvidosas, e pior, alicerçadas em ilusões e egos inflados. Nesses 11 anos de Nascimento, somos felizes em saber que de uma maneira ou de outra, nosso trabalho é uma página de referência na história da dança do Frevo e seu ensino. Que viramos "moda" na cidade ao sermos pioneiros com nossos figurinos que remetem aos carnavais e passistas de rua de décadas passadas, que criamos projetos como o Laboratório do Passo, uma ação riquíssima para se entender o corpo do passista das diferentes épocas, assim como o resgate dos passos desaparecidos com o tempo, revivendo-os, salvaguardando no corpo do passista atual. Nesses 11 anos de Nascimento, muitos caminhos percorremos, mas temos muito a caminhar ainda... Por muito temos que agradecer e por muito ainda temos que lutar, mas como um bom Guerreiro não foge à luta, nem se acovarda diante dos obstáculos que surgem, continuaremos nossa jornada na certeza de que enquanto houver essa chama que arde forte dentro da gente de repassar esse conhecimento e enquanto houver Guerreiros dedicados a ouvir, dançar e viver o Frevo o ano todo, estaremos sempre de pé, a postos para qualquer batalha. Por isso que grito e repito:

    Viva ao Frevo, Viva ao Passo, Viva aos Guerreiros do Passo.......

    Evoé!!!

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  2. Maior orgulho de acompanhar a trajetória de vocês, mesmo que seja à distância. Nunca esqueço aqueles momentos da Pesquisa Fervo, de Valeria Vicente, aprendi muito com vocês. Muita força e muitos anos de vida enérgicos e pulsantes como vocês tanto conseguem contaminar a quem estiver perto. Parabéns pelos 11 anos!

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  3. Desconhecia que os Guerreiros do Passo surgiram também como homenagem ao Mestre Nascimento do Passo. Mas desde a primeira vez que os assisti sendo filmados para um grupo do Japão, foi amor à primeira audiência! Agora, tenho um motivo mais forte ainda para admira-los. Sucesso e vida longuíssima aos Guerreiros do Passo!

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